Monday, April 11, 2005

Versos ambulantes

Além de ponto temporário de vendedores, ônibus do Rio tornam-se também palco de artistas de rua


Gostaria de pedir um minuto de sua atenção. Eu poderia estar roubando, quem sabe até matando, mas estou aqui lhe oferecendo a história de músicos que, sem oportunidade de trabalho e necessitando da moeda nossa de cada dia, invadem o espaço dos ônibus para tocar sua música, declamar sua poesia e passar o chapéu, concorrendo com as adversidades inerentes ao variado “público” de transporte público e, claro, competindo também com ambulantes que embarcam nos coletivos e regurgitam quaisquer palavras semelhantes às que iniciaram este parágrafo.

Esperando o coletivo, tendo como bagagem apenas o violão, o músico de ônibus paga a passagem e, com a roleta como apoio, clama atenção: “Vou cantar algumas poesias minhas, espero que gostem. Quem não puder contribuir, fique à vontade para aplaudir”, disse o músico Jonnes, de 24 anos. Lutando pela confecção dos acordes contra o balanço do ônibus, ele declama seus versos sobre a paisagem do Rio sob o ponto de vista dos meninos do morro. Ao terminar, agradeceu a uma platéia inerte. Mas, afinal, não seria um local pouco apropriado por ter pessoas muitas vezes cansadas, voltando do trabalho?

“Não, até achei bacana. A princípio é estranho, você toma um susto, mas é interessante, distrai. Não aplaudi por timidez. Espero ver outras apresentações”, comentou Roberto Henrique, de 23 anos, atendente de telemarketing e, no momento, passageiro e platéia nas horas vagas. Apesar da receptividade, Jonnes confessa refletir se seria mesmo um local inadequado às apresentações. “Às vezes me questiono quanto a isso, mas o que falo nas minhas músicas, imagino que me dá o direito de incomodar, até porque são só três minutos. E vou te falar que quase sempre todos gostam, ou pelo menos não percebo quem não goste, mas as reações positivas são muito gratificantes, valem o risco”, contou.

Inevitavelmente, porém, o fast-show acaba se tornando também uma espécie de teatro ao vivo, com situações constrangedoras criadas pela interação do público. “Já quase caí algumas vezes, mas o pior aconteceu certa vez quando, no meio de uma apresentação, uma senhora gritou bem alto que eu calasse a boca. Fiquei todo sem jeito, e acabou criando polêmica dentro do ônibus, pois quase mundo ficou contra ela. Nunca mais toquei naquela linha”, comentou, para em seguida lembrar-se de outra situação, essa, mais positiva. “Houve vezes em que o ônibus inteiro aplaudiu, pedindo pra eu cantar Raul Seixas. Maior astral”, contou o cantor, que chega a arrecadar até R$ 40,00 por dia.

E foi tocando Raul que Joannes Jesus Silva – seu nome de batismo – começou a se inserir em palcos motorizados. Natural de Itaubaté, no interior de São Paulo, ele veio para o Rio estudar biologia e trabalhar, mas, após cinco meses, foi mandado embora do emprego, em agosto do ano passado, quando então passou a freqüentar o Largo da Carioca, tocar violão e passar o chapéu. Foi nessa ocasião em que conheceu um outro cantor, que já saíra das ruas e hoje, como ele, ganha a vida vagando de ponto em ponto pelos ônibus da Zona Sul da cidade, revelando assim que esta é apenas uma história de uma safra de novos músicos que buscam ambientes inusitados para mostrar suas composições, e, ao final, tal qual os ambulantes e a esta matéria, só resta agradecer a atenção dispensada.

2 Comments:

Blogger Eliza Araújo said...

"tal qual os ambulantes e a esta matéria, só resta agradecer a atenção dispensada. "
kkkkkkkkkkkkkk

pow, felipe. imagino q vc entrevista do balconista da pastelaria ao pipoqueiro da frente do museu.

¬¬
deixa estar, q vc diverte.
haha

*pq q esse blog seu só aceita comentário de blogspotense? muda o template q talvez resolva. se é q vc quer mais comentários além dos meus né.
hahahahaha

hru-rum.
|P

8:24 AM  
Anonymous Anonymous said...

muito criativo o final, me amarrei
pompos

12:33 PM  

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