Thursday, September 22, 2005

Táxi para a Estação Lunar

"Estamos em outro mundo: o homem desceu na Lua". Assim o Jornal da Tarde, de São Paulo, noticiou a chegada da Apolo 11 ao satélite da Terra. Vi na SuperInteressante. Era uma entrevista com um dos 12 tripulantes, o Edwin "Buzz" Aldrin – cujo batismo do "sobrenome" deve-se a amigos de infância. A matéria não diz qual é sua hierarquia abaixo da de Neil Armstrong e eu não estou a fim de perguntar ao Google, mas há uma superinteressante poeira de informação encurralada no canto da página: "Foi o primeiro homem a urinar na Lua". Era o animal demarcando território numa terra sem lei.


O grande salto da humanidade veio cheio de frases de efeito, mas, definitivamente, nada substituiria o ato de Buzz. Como é típico dos nortamericanos, fincaram bandeiras dizendo "viemos em paz por toda a humanidade", o mesmo slogan costumeiramente utilizado em incursões petrolíferas mundo afora – e que, na ocasião, representava as primeiras secreções do coito interrompido junto à União Soviética. Mas, enquanto Neil entrou para a História filosofando sobre o espaço entre o próprio umbigo o dedão do pé, Buzz, ao pisar em solo lunar, disse apenas: "Magnífico, magnífico. Bela desolação". Foi assim que descreveu o encontro com aquele pequeno bibelô pendurado no céu que por tanto tempo instigou poetas, cientistas e toda estirpe de homo sapiens. Era magnífico, explicou ele, o tal graaande salto, mas não deixava de ser um cenário de "desolação" aquela "pura superfície, sem nenhum tipo de vida".


Um dos dados mais curiosos da entrevista é sobre as crises emocionais por que muitos astronautas passaram ao retornar ao planeta. Para Buzz, a explicação é simples: muito mais desafiador do que ir até a Lua é ter de lidar com o restante da humanidade, no caso dele, especialmente com o mundo vazio das celebridades. Além das angústias pessoais de todo ser humano, Buzz teria uma herança familiar de tendência à depressão e alcoolismo. Mas, ao invés de passar a vida saltando de bar em bar, enfiou a cara nos trabalhos até atingir o ápice de sua carreira. E faz isso até hoje: passa os dias se dedicando à fundação ShareSpace, cujo objetivo é levar ao espaço o maior número de pessoas. Recentemente, a Nasa divulgou a retomada da viagem à Lua, estacionada desde 1972. Além disso, futurólogos prevêem em cem anos um elevador que levará as pessoas até o espaço. Já têm até os preços, os danados: US$ 200. Inflação a conferir.


O irônico na história é a constatação de certa "desolação" com a Lua, em contraponto ao clamor com a conquista em si. Após tantos esforços monetários e físicos, reflexões e fantasias, o que mais causou comoção quando o homem chegou à Lua foi olhar para trás e contemplar a Terra. E mais irônico ainda é que, enquanto Buzz chegava até a Lua fugindo da depressão e da boemia, milhões de sua raça se entorpeciam nas esquinas das cidades, afogando suas angústias e a difícil tarefa de lidar com o ser humano. No fim das contas, constatamos que o homem foi até a Lua para descobrir o que qualquer poeta já havia traduzido nos guardanapos da vida.


Mas tenho fé no grande salto. Um dia, a turma vai dar um pulinho ali na Lua para comemorar o aniversário. Pegarão um táxi – ou um elevador – rumo à Estação Lunar, um botequim, daqueles pés-sujos tradicionais. No caminho, o piloto lhes contará suas mais tresloucadas aventuras, entre um gole e outro após ultrapassarem os limites legais de 100 km de altitude. Chegando lá, encontrarão ali, no lado negro da Lua, um traficante de gravidade e darão um tapa, só pra dichavar. Farão um lual, mijarão na estátua de Buzz e beberão todas até flutuar. Não posso nem imaginar as belíssimas canções em louvor ao planetinha. Deve ser o sonho de qualquer aluado: ficar lá, no mundo da lua, olhando estrelas sem pôr os pés no chão.


A mim, que não sou poeta e não consigo ver sob a sola dos pés, resta aguardar a fila do elevador – e a descoberta do elixir da mocidade. Vai ver, de longe, é mesmo mais interessante.

2 Comments:

Blogger Jorge Rocha said...

porra, salete, onde esta vc q nao vai pruma porra duma redaçao ? ah, eu esqueci: os melhores jornalistas nao se encontram "nesses locais".

6:25 AM  
Anonymous Anonymous said...

Olha, olha, veja quem resolveu atualizar... Salete? hehe, me fez lembrar daquela menina de Mulheres Apaixonadas. Jorge deveria ser morto por me fazer associar aquela doce garotinha a vc.

E, aqui, até parece que vc precisa de elevador pra ir lá, né, hãm...
Bjos.

4:23 PM  

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