Táxi para a Estação Lunar
"Estamos em outro mundo: o homem desceu na Lua". Assim o Jornal da Tarde, de São Paulo, noticiou a chegada da Apolo 11 ao satélite da Terra. Vi na SuperInteressante. Era uma entrevista com um dos 12 tripulantes, o Edwin "Buzz" Aldrin – cujo batismo do "sobrenome" deve-se a amigos de infância. A matéria não diz qual é sua hierarquia abaixo da de Neil Armstrong e eu não estou a fim de perguntar ao Google, mas há uma superinteressante poeira de informação encurralada no canto da página: "Foi o primeiro homem a urinar na Lua". Era o animal demarcando território numa terra sem lei.
O grande salto da humanidade veio cheio de frases de efeito, mas, definitivamente, nada substituiria o ato de Buzz. Como é típico dos nortamericanos, fincaram bandeiras dizendo "viemos em paz por toda a humanidade", o mesmo slogan costumeiramente utilizado em incursões petrolíferas mundo afora – e que, na ocasião, representava as primeiras secreções do coito interrompido junto à União Soviética. Mas, enquanto Neil entrou para a História filosofando sobre o espaço entre o próprio umbigo o dedão do pé, Buzz, ao pisar em solo lunar, disse apenas: "Magnífico, magnífico. Bela desolação". Foi assim que descreveu o encontro com aquele pequeno bibelô pendurado no céu que por tanto tempo instigou poetas, cientistas e toda estirpe de homo sapiens. Era magnífico, explicou ele, o tal graaande salto, mas não deixava de ser um cenário de "desolação" aquela "pura superfície, sem nenhum tipo de vida".
Um dos dados mais curiosos da entrevista é sobre as crises emocionais por que muitos astronautas passaram ao retornar ao planeta. Para Buzz, a explicação é simples: muito mais desafiador do que ir até a Lua é ter de lidar com o restante da humanidade, no caso dele, especialmente com o mundo vazio das celebridades. Além das angústias pessoais de todo ser humano, Buzz teria uma herança familiar de tendência à depressão e alcoolismo. Mas, ao invés de passar a vida saltando de bar em bar, enfiou a cara nos trabalhos até atingir o ápice de sua carreira. E faz isso até hoje: passa os dias se dedicando à fundação ShareSpace, cujo objetivo é levar ao espaço o maior número de pessoas. Recentemente, a Nasa divulgou a retomada da viagem à Lua, estacionada desde 1972. Além disso, futurólogos prevêem em cem anos um elevador que levará as pessoas até o espaço. Já têm até os preços, os danados: US$ 200. Inflação a conferir.
O irônico na história é a constatação de certa "desolação" com a Lua, em contraponto ao clamor com a conquista em si. Após tantos esforços monetários e físicos, reflexões e fantasias, o que mais causou comoção quando o homem chegou à Lua foi olhar para trás e contemplar a Terra. E mais irônico ainda é que, enquanto Buzz chegava até a Lua fugindo da depressão e da boemia, milhões de sua raça se entorpeciam nas esquinas das cidades, afogando suas angústias e a difícil tarefa de lidar com o ser humano. No fim das contas, constatamos que o homem foi até a Lua para descobrir o que qualquer poeta já havia traduzido nos guardanapos da vida.
Mas tenho fé no grande salto. Um dia, a turma vai dar um pulinho ali na Lua para comemorar o aniversário. Pegarão um táxi – ou um elevador – rumo à Estação Lunar, um botequim, daqueles pés-sujos tradicionais. No caminho, o piloto lhes contará suas mais tresloucadas aventuras, entre um gole e outro após ultrapassarem os limites legais de 100 km de altitude. Chegando lá, encontrarão ali, no lado negro da Lua, um traficante de gravidade e darão um tapa, só pra dichavar. Farão um lual, mijarão na estátua de Buzz e beberão todas até flutuar. Não posso nem imaginar as belíssimas canções em louvor ao planetinha. Deve ser o sonho de qualquer aluado: ficar lá, no mundo da lua, olhando estrelas sem pôr os pés no chão.
A mim, que não sou poeta e não consigo ver sob a sola dos pés, resta aguardar a fila do elevador – e a descoberta do elixir da mocidade. Vai ver, de longe, é mesmo mais interessante.
2 Comments:
porra, salete, onde esta vc q nao vai pruma porra duma redaçao ? ah, eu esqueci: os melhores jornalistas nao se encontram "nesses locais".
Olha, olha, veja quem resolveu atualizar... Salete? hehe, me fez lembrar daquela menina de Mulheres Apaixonadas. Jorge deveria ser morto por me fazer associar aquela doce garotinha a vc.
E, aqui, até parece que vc precisa de elevador pra ir lá, né, hãm...
Bjos.
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